quarta-feira, 17 de agosto de 2011

um debate pertinente ...

   Num círculo de amigos, em meio a uma bela noite que pré-anuncia a estação primaveril, a lua cheia a translucidar o próprio sol, embriagados pelo amor e pelos sonhos utópicos, iniciamos um debate pertinente.
   Confesso que fui eu e mais um sonhador cientista que provocamos tal debate.
   Eu mesmo pedi desculpas por escrever muitas coisas tão chatas, pois eu não queria, porque eu não sou assim ... Se, assim, escrevi foi porque me obrigaram, em nome de um rigorismo acadêmico.
   De fato, a nobreza científica pensa que a ciência é coisa fria e até inventou um jeito engraçado de escrever ... tudo sempre impessoal ... como se o escritor não existisse ... e, assim, o texto parece que foi escrito por todos e por ninguém. Foi por causa desta frieza que se inteditou a beleza e do engraçado nos textos de ciência.
    Foi decretado que o saber deve ser coisa séria, sem sabor!
    Tudo virou rigorismo! ... A ciência, que tanto combateu o dogmatismo, tornou-se, toda ela, dogmática ... Seus protagonistas, ainda bem que não em grande número, perderam o senso do riso e da alegria espontânea e se tornaram gladiadores nas arenas das Universidades ... cada qual buscando contestar um ao outro para disputar troféis inúteis. Perderam o sentido maior da Ciência, que é o de avançar no conhecimento e entendimento do "tudo existente", afim de que, pela Ciência própria, tudo possa ser respeitado com sua devida dignidade.
    O pior ... não se fala mais de diálogo científico ... fala-se muito, sim, de "normas" e "métodos" que mais colaboram para inibir o avanço da Ciência e torná-la, também, inacessível a todos.
    Temos uma bela História da Ciência, mas, também, notamos uma tremenda ausência de uma Filosofia da Ciência. Tal fato é consequência do acentuado "tecnicismo" que pervade as infinitas dimensões da Ciência.
    O cientista continua a ser vítima da Inquisição, esta que outrora partia da religião, agora se instalou na própria Universidade ou Instituição que o abriga. Ele não é mais queimado em fogueiras, mas apedrejado pelo descrédito e pela censura ... excluído porque "pensa" ... "questiona" ... "avança" ... "escreve" ... "faz da própria Ciência uma Poesia" ... "partilha o conhecimento" ... "ousa" ... "exorcisa o medo" ... "quebra paradigmas".
    A Ciência é magia e poesia ... não importa sua dimensão ... se matemática ou física ... se literatura ou linguística ... se engenharia ou direito ... sei lá! Tudo, se for escrito feio, sem riso ou poesia, deixa de ser um jogo encantado das contas de vidro, assim como Hermann Hesse escreveu. Terrível, quando fazemos deste maravilhoso poema, que é a Ciência, apenas um produto, objeto de dissecções analíticas que vira dissertação e depois uma pesada tese doutoral ... passaporte obrigatório para uma entrada permitida nos círculos do saber.
    Bem Nietzsche observou ... a condição para se passar num exame de doutoramento é haver desenvolvido o gosto pelas coisas chatas.
    Bem, tudo isto é para iniciar o debate ... como escrevi ... num círculo de amigos cientistas ... em meio de uma noite pré-anunciadora da estação primaveril ... sob um luar maravilhoso ... embriagados por muito amor e sonhos utópicos ... regados por cerveja e outras coisas mais ... desabafamos ... concluímos que devemos mudar e revolucionar a Ciência.
    Escrevi ...
                                José Juliano

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