Lamento
que vem dos leitos ... leitos dos hospitais ... leitos dos casebres nordestinos ... leitos dos cortiços ... leitos espalhados por todos os cantos deste país cheio de sol e de terra!
Lamento
que vem das camas improvisadas com papelão e jornal ... espalhadas pelas ruas ... pelas estradas ... pelas rodoviárias ... por todo o canto deste país verde e amarelo cheio de rios e de gente morena!
Canto
o lamento da nossa gente!
Canto
como os pássaros que reclamam a mata devastada!
Canto
a música melancólica das velhas negras do Largo da Liberdade!
Meu cantar
não é tão melodioso ... é, sim, um sufoco!
Meu cantar
vem lá de dentro do peito e quer abraçar este povo carente e com corrente!
Meu cantar
é um lamento ... de ver tanta gente sofrendo e gemendo!
Meu cantar é um grito
quer chamar a atenção de todos vocês para comigo ver aquela mulher chorando porque seu filho morreu na boca-do-fumo!
Meu cantar
não é virtual, nem vem do jornal, tão pouco é intelectual!
Meu cantar
vem do lamento da gente que quer viver e ser feliz ... que lambuza minhas mãos com suas lágrimas e meu coração com tanta coisa que diz!
Canto ...
mal sei expressar, com meu canto, tudo o que esta gente traz!
Um último lamento agora escutei!
Soluços de desespero, um jovem quer um emprego! Emperro e fome! Angústia e desterro!
Que posso eu fazer ...
impotente cidadão, como todos desta Nação!
Só posso cantar ...
cantar o lamento e, junto, com todos lamentar e chorar!
Cantando um lamento ...
canto todos os lamentos!
Cantando um lamento ...
quero amanhã ver sorrir toda esta gente!
Fazer o que?
Continuar a cantar prá ver se a gente revoluciona a Nação e reverte a situação!
José Juliano
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