sábado, 9 de abril de 2011

Ficção ou Realidade? [ parte I]

Prólogo

   Escrever, em nosso tempo, torna-se uma "arte", pois os recursos linguísticos não exigem tanto a sistemática de um estilo literário unívoco. Nesta liberdade de expressão e comunicação, conseguimos tudo entralaçar e, assim, escrever para subentender. É a maravilha da própria "arte" de escrever cujo produto pode ser, para muitos, uma ficção e para outros muitos uma Realidade.
   Usando as ferramentas da Ciência, os trocadilhos da linguagem, a experiência histórica, os frutos do pensar ... tecemos linhas que podem cair na imaginária de cada pessoa e colocá-la nos cenários que criamos, fazendo-as protagonistas fa Ficção-Realidade que arquitetamos.
   Nada é escrito por acaso, isto se considerarmos tal "arte" como autêntica "arte".
   Então apresento "Ficção ou Realidade?" ... oútros títulos poderão ser sugeridos ... títulos mais atraentes ... mas, é você que vai se identificar e determinar se é uma mra "Ficção" ou "Realidade" vivida no cotidiano.
   A mim, resta apenas a escrever, manifestar as entrelinhas que meus neurônios, como que um arquivo sem dimensões, com a coragem permitem-me registrar com meus próprios punhos.
   Portanto, entrando pelo "portal" de um dos Universos, reuno todos os substantivos, adjetivos, advérbios e verbos para agora começar a registrar uma Saga na qual todos nós somos seus principais personagens.
  
                                                                         I

   Distante do centro da grande metrópole, atravessando o rio no sentido norte, um lugarejo em meio da Mata Atlântica e cercado pela grande Serra, reunia uma parca população, mesclada de portugueses, italianos, holandeses, alemães, austríacos e franceses. Já na segunda década do século passado, multiplicaram-se seus descendentes e alí floresceu um saudável lugar para se habitar.
   A metrópole dinamizava-se com o crescimento econômico. As fábricas atraiam imigrantes e tantos desta terra de Piratininga. A modernidade chegou para ficar e tudo se revolucionou. Uma grande Universidade foi fundada e um grande "arranha-céu" foi construído. O bonde, os carros, e outros veículos substituíra as antigas charretes. A Cidade começou a ter rosto de Cidade européia, mesmo com o Movimento que tanto escandalizou, a da "Semana da Arte Moderna".
   O centro da Cidade irradia modernidade e fascinava, mas do outro lado do rio, encostado na Serra, alí estava aquele vislumbrante lugarejo, tido até como interior da Cidade.
   A rotina deste lugar parecia ser contra a da Cidade, tanto é que construíram uma pequena e clássica igreja colocando sua frente para a Serra e suas costas para o sentido da Cidade. Acaso ou não, uma maneira de contestar o turbulento ritmo metropolitano. Para lá chegar, só com o trenzinho que saia da Cidade e atravessava o rio, entrava na Mata e descansava na última estação, situada no sopé da Serra.
   Por outro lado, foi dado um nome a este lugarejo ... Trambé. O porquê não se sabe. Só se sabe que quem chega nela não quer sair mais. Trambé, a terra admirável da Mata, dos pássaros, das cachoeiras, das frutas doces e flores de cores nunca pensadas pelos mais ilustres pintores. Ar rarefeito, puro, ruas arborizadas. Ambiente propíocio para a vida saudável.
   Sua gente requintada e um tanto caipira para a Cidade. Não importava o conceito da gente urbana, mas sim a tranquilidade e realização dos sonhos campestres.
   Poetas, boêmios, dedicados ao cultivo e respeito à natureza ... gente cheia de segredos ... gente boa.
   No entanto, mistérios guardava toda esta gente.

                                                                     II

   Getúlio venceu a Revolução de 1932.
   O verão fazia de Trambé uma estância de descanso. A chuva de fevereiro caia fortemente. Raios e trovôes levavam as pessoas a queimarem as palmas secas bentas no Domingo de Ramos, afim de que passasse a fúria da natureza.
   Fevereiro!
   A noite iluminada com luz fraca. A chuva não parava. Era, talvez uma quinta-feira. Um movimento estranho sentia-se entre as ruas e alguém dizia: - O Padre Breno está morrendo! Ouvia-se o sino dobrar em lamento e outros diziam: - Ele vai descansar porque foi muito maltrado e zombado. Coitado, que descanse em paz!
   Ao lado da igreja, na sertaneja casa paroquial, ouvia-se a reza do terço por um grupo de piedosas mulheres. No quarto, deitado sobre um colchão de palha, estava o velho padre, sofegando e agonizando. Ao seu lado estava o médico, um jovem sacerdote e sua irmã mais velha.
   Padre Breno fez um sinal, como que chamando o jovem padre. Este aproximou-se e em sussurro disse: - Padre Breno, não se canse! Mas, o velho padre, soluçando, respondeu: - Saiba, jovem padre, este lugar é bonito demais, só que nele está enterrado algo de estranho! Acho que é maldição!
   Dito isto exspirou.
   O tempo passou. As palavras do Padre Breno foram registradas no livro do Tombo da paróquia de Trambé.
   O milênio virou. Grande festa. Trambé se modernizou.
   Só que, numa quinta-feira, duas senhoras entraram na clássica igreja de Trambé para rezar. Não deu hum minuto. Ouviu-se um grito. Todos correram para ver o que aconteceu. Espantados viram um corpo caído no altar da igreja de Trambé. Corpo jovem. Corpo de militar. O sangue lavou o chão do altar. Mistério para todos.
   Então, começa a nossa ficção-realidade!

                            José Juliano.

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