quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ficção ou Realidade?...(Parte III)

                                                                            IV

   O silêncio nada mais era do que um retroceder no tempo! Memória, saudades, lembranças de uma infância e adolescência vividas em Trambé.
   Talvez aquela velha afirmação - Como era bom aquele tempo!
   Realmente ... Como era bom aquele tempo em que Pedro e Paulo eram crianças e depois adolescentes!
   Não eram uma dupla, mas com eles estava também o Nicolau.
   Conheceram-se timidamente no primeiro ano primário ... lá no colégio das irmãs da Paixão. Muita travessura e preocupação causaram. Era o tempo em que todos os meninos de Trambé também queriam ser coroinhas do padre Alberto ... um descendente de italiano, nervoso por causa de sua úlcera no estômago, severo, mas também brincalhão. Saudades dos cineminhas nas tardes de domingo ... tudo ainda era em preto e branco e se assistia o Gordo e o Magro, e os filmes de Charles Chaplin ... cinema mudo que causava risadas e emoções.
   No domingo o sino da igreja tocava chamando para a missa das crianças ... era uma festa!
   Os quatro anos de primário passaram rapidamente!
   Fizeram o exame de admissão para entrarem no ginásio ... estudaram muito e conseguiram.
   Os professores e professaras eram diferentes ... a que mais se destacava era a irmão Maria Lúcia que até jogava bola com eles. Tocavam na fanfarra que sempre foi premiada nos desfiles públicos. Despertaram-se para a adolescência e começaram os bailinhos nas garagens ... tudo começou a mudar ... os namoros e as amizades se ampliaram ... quem não conhecia Pedro em Trambé?
   Muito ágil no raciocínio ... falante e bom estudante ... terminou o ginásio e começou o colegial.
   Tão logo, aprendeu a lição! Cantou as músicas dos Beatles e começou a conhecer o outro lado do rio ... a grande Cidade, sempre rejeitada por Trambé. A cosnciência mudou e cresceu ... Pedro, Nicolau, Paulo, Clarinha, Terezinha, Eliana, Duda, Ditinho e tantos ... os questionamentos também surgiram!
   Por que?
   Quando ainda crianças, a semana santa de Trambé reunia uma grande multidão. Gente que vinha dos bairros vizinhos. A procissão do senhor morto parecia um grande formigueiro ... todos com uma vela acesa nas mãos, sob o som da banda do Força Pública, tocando as marchas fúnebres, percorriam as acidentadas ruas do lugarejo. Várias vexes a procissão parava ... a matraca tocava ... e a verônica cantava em latim fazendo todo mundo chorar. Era a voz da Marlene! Mulher bonita e fervorosa! Não era só na sexta-feira santa que cantava ... também cantava na missa das 6 da tarde. Sua voz emocionava e também encatava.
   Um dia Marlene mudou-se de Trambé ... de repente foi para longe ... ninguém soube para onde.
   Na praça de Trambé, depois de alguns anos, a turma de Pedro perguntou: Por que a Marlene sumiu?
   - Ah! Respondeu seriamente o Carlinhos. - Vocês nunca souberam?
   Todos, com olhares curiosos se voltaram para ele em busca de uma explicação.
   -O caso foi este, começou a contar Carlinhos: - Marlene se apaixonou por um militar. Ele era casado e tiveram um romance.
   - E ela perdeu a virgindade? Perguntou o fofoqueiro do Edson.
   - Se eu disse que tiveram um romance é porque ela também engravidou! Respondeu Carlinhos. - Mas, a Berenice, mulher do tal militar descobriu e foi correndo contar para o padre Alberto e o padre contou prá todo mundo. Foi difamada e expulsa da sua casa e da igreja. Ninguém mais a comprimentava e nem olhava para ela. Então, teve que mudar da noite para o dia. Dizem que ela foi para o outro lado da cidade e teve o filho do militar.
   Todos ficaram perplexos e houve uma grande reação.
   Por que? Justo a Marlene! O padre a expulsou da igreja? Por que ninguém contou para nós! Vamos procurar a Marlene!
   Em meio destas perguntas e outras mais, Pedro, meio alterado, disse: - Quanta hipocrisia! A Marlene não merecia ser tratada desse jeito!
   Lurdinha, uma menina legal, logo acrescentou: - Concordo! O povo de Trambé não entende de nada! Vive somente de fachada! Ninguém também aceita a gente! Acham que nós somos modernos demais, só porque estudamos, gostamos de música, cantamos, dançamos, fazemos trilhas na Serra e já não engolimos tudos o que nos ensinam. A irmão Maria Alexandrna tem toda a razão! Devemos começar a voar com nossas próprias asas!
   Saudades! As pequenas águias de Trambém começavam a se despertar e queria voar!

              José Juliano.
   

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